segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Dia de Chuva

Acordar com o som singular da água a chocar contra o vidro, uma música suave recheada de melodia natural.
As nuvens correm baixas, o céu mais próximo da terra, a agua no chão reflecte os contornos da cidade. Voltamos atrás no tempo, a cor desvanece-se ficando apenas um cinza desprovido de sentimentos, uma tela a preto e branco mergulhada no mar agitado, difundindo as suas formas e pormenores. Tecidos grossos e molhados cobrem a cor viva da pele, a essência humana milímetro a milímetro, o branco reflector dos sorrisos diminui disfarçado por cachecóis e golas altas. O impacto das solas ao embater na água das poças distorce o reflexo por elas emitido como um espelho estilhaçado. O som contínuo da chuva ao embater na calçada é substituído pelo som da mesma a embater no tejadilho do meu carro, uma música de tom mais grave e difuso. Ligo o motor, o rádio e parto.
Jazz, que outro estilo combina tão bem com a melodia natural que me envolve?
A chuva cai cada vez com mais intensidade, biliões de gotas de água a cair a um ritmo frenético, distorcendo as luzes vermelhas do trânsito. A visibilidade é pouca, a velocidade menor ainda. O alcatrão escorrega, simbolizando uma entidade coberta por um manto preto, passando uma foice coberta em óleo pelo piso. Noticiários invocam números de vidas que essa foice já ceifou.
Por fim o destino foi atingido. A chuva estagnou. Saio do carro e um silêncio avassalador instala-se, o vento enfraquece deixando as árvores sem par na sua dança irrequieta, apenas uma brisa corre no ar. Respiro fundo e inspiro esta calma que me envolve. O sol brilhará novamente…

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